sábado, 19 de setembro de 2009

Não me corrija.

" Não me corrija. A pontuação é a respiração da frase, e minha frase respira assim. E se você me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar. "

C. Lispector

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Arebaba misifiú, shukriá seu moço.

GRAMÁTICA DA IDENTIDADE SOCIAL: 1. todo indivíduo possui mais identidades do que poderia assumir a um só tempo numa dada interação; 2. para qualquer identidade assumida por alguém há apenas um número limitado de identidades combinadas, isto é, suscetíveis de serem assumidas pelo outro indivíduo, contraparte da interação. OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. “ Identidade étnica, identificação e manipulação”. In: Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo: Pioneira, 1976.

Um exemplo de profunda interconexão é o nosso país, que recebe de braços abertos diversas culturas somando à sua. A interconexão entre grupo étnico e cultura é sujeita a confusões.

Quer um exemplo?

Joãozinho estava lendo um livro de antropologia e perguntou: Ô tiiiiiia! Como uma pessoa de cultura diferente entende o que a outra quer dizer? Imagina só.... Um nordestino conversando com o povo que a minha mãe vê na novela...

O Indiano encontra o Nordestino em uma viagem para o interior do Brasil:
- Namastê!
- Diabéisso???

O indiano pergunta sobre a mulher do Nordestino que vendia rapadura.
- Sua esposa onde está? Não está lá para vender. Deve estar arrastando o Sári pelo mercado...
- Ela num'rasta nadanaum seu moço, só a noitim e é a sandalinha lá no forró, óóói!
Continuando, o nordestino fala sorrindo com dente sim e dois não.
- Aki seumooooço todo mundo é igual a todo mundo tem besteira não. Poeira só no pé depois de dançar, tenadi dalit não...

O Indiano pergunta o que é forró... Zé responde que é uma dança e o convida para conhecer, e o Indiano aceita.
- Tik he!Tchalô.
- Simboooooooora!!! prucevê ki é bão pramadimetro!

Chegando lá o Indiano fica espantado e solta um sonoro...
- Baguan Keliê!!!!!!
O nordestino pergunta o que significava...e compreendi que significava algo próximo à "Meu Deus". E derrepente ele arregala os zoiú e exclama:
- Meu Padim, Padim Cisso !quaaaanto dinheruuuuu!
O Indiano se orgulha e exibe suas rúbias.

Derrepente o Nordestino avista a Rosinha darrapadura.
O Indiano notando o encanto do Zézinho das Candonga, pergunta se ele avistou algo auspicioso.
- Butei meuz zoiú e o ôtro tumém, tenho dois... no vidiperfume da minha pintiadêra, no dentifriço da minha iscovdidente, no lidileite na minha geladera, no masstumate do meu macarrão, na birruga no meu juei ...

Interrompendo o indiano diz encantado, quem será esta Divina Laksmi?
O nordestino dá um salto e grita:
- Oraaaaaa! cê tá prestendotenção na muié minha seu cabra de uma figa??!?!
- Narrin, narrin! Arebaguandi...

Demonstrando uma grande irritação pelo fato do indiano ter cantado a sua deusa da rapadura, o Zé das candonga puxando a pexêrá, grita:
- Ói só... sô muito du cabra pra te esmagar como uma ervilha! já ki tem poço naum pra bota cê nu fundo e tumém num tem o danado du Gângis, vou é te botar no fundo do Velho Chico!!!

O indiano sendo carregado pelo Nordestino até o Rio São Francisco implora...
- Por Lorde Ganeshaaaaaa!

E lá se foi o Indiano pra dentro d'agua... E lá vem o Zé limpando as mãos e com grande orgulho exclamando para todos:

- Esses Firanghi estrangeiro acham que nois é areba'baca ...

Terminando a sua exposição, Joãozinho indaga a tia se seria assim. A tia espantada com a criatividade de Joãozinho sorri balançando a cabeça e diz:
- Tik Tik...

Novamente indagando...
- Ô tiiiiiia ... quem escreveu essa novela foi Vasco da Gama? Ou os franceses, holandeses e ingleses na Companhia das Índias????

*Vasco da Gama na Era dos Descobrimentos destacou-se por ter sido o comandante dos primeiros navios a navegar diretamente da Europa para a Índia, na mais longa viagem oceânica até então realizada, superior a uma volta completa ao mundo pelo equador.
*As Companhias das Índias Orientais foram três organizações distintas com objetivos comerciais no Sueste asiático, de origens francesa, holandesa e inglesa.

** Agradecimento em especial ao "Ronald Bahuan" que me incentivou a escrever essa besteira. DHANYAVAAD !

Me devolva a sensibilidade.

“Hoje, se quiser, se puder, se souber, me fala de você. Da essência vestida com essa roupa de gente com a qual você se apresenta. Fala dos seus amores, tanto faz se estão perto do seu corpo ou somente do seu coração. Fala sobre as coisas que costumam fazer você sintonizar a freqüência do seu riso mais gostoso. Fala sobre os sonhos que mantêm o frescor, por mais antigos que sejam. Fala a partir daquilo em você que não desaprendeu o caminho das delícias. Do pedaço de doçura que não foi maculado. Da porção amorosa que saiu ilesa à própria indelicadeza e à alheia. A partir daquilo em você que continuou a acreditar na ternura, a se encantar e a se desprevenir, apesar de tantos apesares. Conta sobre as receitas que lhe dão água na boca. Sobre o que gosta de fazer para se divertir. Conta se você reza antes de adormecer. Hoje, me fala de você. Dos momentos em que a vida lhe doeu tanto que você achou que não iria aguentar. Fala das músicas que compõem a sua trilha sonora. Dos poemas que você poderia ter escrito, de tanto que traduzem a sua alma. Senta perto de mim e mesmo que estejamos rodeados por buzinas, gente apressada, perigos iminentes, faz de conta que a gente está conversando no quintal de casa, descascando uma laranja, os pés descalços, sem nenhum compromisso chato à nossa espera ..." [Ana Cláudia Saldanha Jácomo]

Me fala. Me conta. Que ouvirei com o coração, já que os meus ouvidos estão entupidos pelas lamentáveis lembranças do 11 de Setembro que os noticiários cismam de explorar e cada vez mais sem limites. Tornando as nossas almas duras e insensíveis mediante a tanta ausência de amor.